Com imóveis demolidos, Via Metropolitana Norte não agrada população

Moradores da região denunciam que foram coagidos a deixar as moradias

Vista como uma importante ferramenta para amenizar a problemática do trânsito no Grande Recife, sobretudo na ligação entre as cidades de Olinda e Paulista, a Via Metropolitana Norte ainda enfrenta obstáculos que podem dificultar o avanço das obras, atualmente seguindo a passos lentos. Orçada em R$ 123 milhões, com recursos provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), no segmento mobilidade, o projeto esbarra na desapropriação de cerca de dois mil imóveis, parte deles localizada às margens do rio Fragoso, entre os bairros de Jardim Fragoso e Jardim Atlântico, considerada a área mais crítica.

Quase um ano depois do início dos trabalhos, cerca de 400 moradias já foram demolidas para o nascimento do corredor, que promete seis quilômetros de extensão. Travando uma verdadeira guerra, as famílias remanescentes seguem no meio do canteiro de obras, convivendo entre estacas, tratores e caminhões. Elas denunciam a suspensão das instalações elétricas e hidráulicas, além de questionar a baixa avaliação das construções, situação que não lhes daria condições de deixar o local.

“Tentamos negociar, mas a todo o momento somos coagidos a sair. Esperava mais respeito”, criticou a dona de casa Luciene Maria da Silva, de 39 anos, que teve que acionar a Justiça em busca de solução. “Quando eles ligam as máquinas, a casa toda balança e as rachaduras vêm se multiplicando. Tenho medo de tudo desabar”, complementou o auxiliar de cozinha Marcos José, 40, que chegou à localidade ainda criança.

Em meio à aglomeração de insatisfeitos, que rapidamente se formou com a chegada da equipe de reportagem, muitos foram os relatos. A dona de casa Joselma Maria, 41, revelou não receber o devido pagamento do auxílio-moradia. “Tenho um marido doente, vivendo o tempo todo acamado. Como vou viver?”, indagou. O vizinho Ubiraci Correia, 39, mostra a sujeira que chega à porta e adiciona: “Desligaram a água e removeram os postes, assim ficamos no escuro. A bandidagem tomou conta e estamos reféns dentro de casa”, denunciou, expondo que há um ano e meio não obteve mais respostas.

O projeto prevê um elo entre as rodovias estaduais PE-15 e PE-01, até as imediações da ponte do Janga, no limite de Olinda e Paulista, devendo beneficiar 70 mil motoristas e 60 mil usuários de ônibus. Dentro da intervenção, foi assegurada a instalação de faixa exclusiva para ônibus, duas pistas marginais com 10,5 metros de largura, uma ciclovia com 2,5 metros de largura e ainda um viaduto. De acordo com o presidente em exercício da Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab), Paulo Lócio, os serviços estão dentro da programação estabelecida e serão entregues até dezembro de 2015. “Temos avançado com cautela e, eventualmente, encontramos alguns problemas. Se algum cidadão se mostra insatisfeito, estamos abertos ao diálogo para resolver da melhor forma, com um trabalho construído junto à comunidade”, minimizou, negando a existência de qualquer coação para a retirada de moradores. O gestor não liberou o cronograma das ações e tampouco detalhou o quanto já foi feito, mas exemplificou atrasos como o processo de dragagem do canal, que acaba sendo afetado com o período das chuvas, sendo retomado apenas em setembro.

 

Notícia publicada na Folha de Pernambuco, em 31/07/2014